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“Açores - A maior densidade de fortalezas, relativamente à área territorial, encontra-se nos Açores, onde se começou a fortificar no final do séc. XV” (Nunes, 2005: 58). A afirmação de António Lopes Pires Antunes é exemplificativa do rico e vasto património militar construído e atualmente em ruínas nos Açores. Constatá-lo e valorizá- lo é um tributo à riquíssima herança de 500 anos de grande esforço por parte de gentes e erário público no arquipélago. Apesar de não constituir novidade para estudiosos e curiosos, os Açores, dada a sua natureza arquipelágica, encerram uma cultura específica e cada ilha constitui, isoladamente, um mundo diferenciado. O presente estudo assim o demonstra. Elaborado para as ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira, São Jorge, Flores, Corvo e Graciosa, constitui um ponto de situação e um alerta para o que existiu e para o que está a desaparecer. A missão da fortificação da Idade Moderna encontra-se inevitavelmente associada a dois fatores indissociáveis à Historiografia Açoriana: a posição geográfica das ilhas face à epopeia dos Descobrimentos e a sua utilização como área de apoio logístico, quer às armadas reais, quer a quem por estes mares andava em busca de glória e lucro. Este intento ao serviço de piratas e corsários não pouparia terra em caso de insucesso no mar e na ausência de formas de defesa. A política internacional poderia ser um estímulo adicional, como se verificará no final do século XVI. A pesquisa documental deste legado e a constatação da sua realidade no século XXI constitui um ponto de partida não só para a recuperação da Memória como para a valorização, e possível recuperação, da ligação Cultural dos antigos beligerantes hoje visitantes, numa demanda logística pelas nove ilhas que sem apoios financeiros será no mínimo um desafio. Transpor esta realidade para o contexto de sala de aula, adaptando-o aos conteúdos lecionados não só complementa e facilita a aprendizagem pela proximidade, como enquadra a História dos Açores na internacional e nacional, fomentando a Identidade dos alunos e gerando por vezes novas pesquisas, roteiros e publicações com os alunos, ou a produção de exposições e comunicações a outras comunidades escolares. O oitavo ano será por excelência o que melhor permite trabalhar estes conteúdos, também passiveis de serem abordados no quinto e décimo-primeiro ano. Com uma faixa etária que possibilita uma análise relativamente detalhada, a exploração dos conteúdos escolares “Os impérios peninsulares nos finais do século XVI – O Império português: do apogeu à crise” enquadram o tema por abordarem a luta pelo controlo dos mares. Partindo-se de uma metodologia abrangente com recurso a mapas escolares e próprios, passar-se-á ao específico ao aprofundar-se com recurso a vídeos ou diapositivos, as fortificações por ilhas no caso mais concreto e próximo aos alunos. Os acessos, a defesa da vila ou cidade, as fortalezas e as peças de artilharia, permitirão não só a identificação e valorização do Património como uma visita de estudo a curto prazo para cimentar os conhecimentos e promover a sua defesa.

A Fortificação da Idade Moderna nos Açores

Sérgio Rezendes

Instituto de História Contemporânea/FCSH/UNL

Desvendando o lugar da música e movimento na educação da criança açoriana: o papel da escola e da filarmónica

Nisalda Carvalho (UAc)

Isabel Condessa (UAC e CIEC - Centro de Investigação em Estudos da Criança)

A magia do cinema consegue resistir à interrogação filosófica? A arte que tem a capacidade de emocionar, alegrar, distrair, denunciar, perderia seu encanto quando contemplada pelo olhar argumentativo do filósofo? Estas questões constituem o ponto de partida da presente comunicação. Para respondê-las, pretendo mostrar que o cinema não se presta a ser mera ilustração de pensamentos e de conceitos filosóficos. Para este fim, utilizarei teses que estabelecem diálogos entre a história da filosofia e a história do cinema. Munida de tais teses, que foram defendidas pelos pesquisadores Julio Cabrera, Mark Rowlands e Juan Antonio Rivera, irei argumentar que o cinema ensina história da filosofia porque transcende os esquematismos conceituais e a propaganda ideológica sem perder de vista a dimensão humana do real. Ao dialogar com os referidos pesquisadores, demonstrarei que o cinema, enquanto prática estética e fato cultural fundamental, afeta nossa forma de pensar, de conhecer, de sentir e de agir.

Para uma caracterização da literacia científica de estudantes à entrada do ensino secundário nos Açores

Maria Helena Resendes (Universidade de Évora)

Susana Mira Leal (CICS.UAc/ CICS.NOVA.UAc)

A literacia é considerada uma competência fundamental, transversal e decisiva nas sociedades ocidentais contemporâneas. Capacidades reduzidas no domínio da literacia podem gerar, para os indivíduos e grupos, sérios riscos de exclusão social, e para os países problemas não menores a nível do desenvolvimento económico, cultural e político. Por referência às fortes exigências que as sociedades contemporâneas colocam hoje sobre os indivíduos e estados, a literacia assume-se como uma problemática de investigação cada vez mais premente. Estudos de âmbito internacional como o Programmme for International Student Assessment (Pisa), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que visa avaliar a literacia dos jovens estudantes de 15 anos, verificou-se que os estudantes Portugueses têm ficado sistematicamente em posições desfavoráveis no ranking relativamente à literacia em disciplinas como a matemática, a leitura e as ciências. Dados do Ministério da Educação sublinham estes resultados, demonstrando que o problema afeta principalmente regiões do país com mais desvantagens económicas e culturais como a Região Autónoma dos Açores. O Pisa destaca a importância da literacia científica, referindo que um cidadão com competências para explicar um fenómeno científico, abordar questões usando o método científico e analisar e interpretar dados, é capaz de produzir um discurso fundamentado sobre ciência e tecnologia, e, mais do que isso, é um cidadão como uma noção abrangente de cidadania e que poderá contribuir de forma ativa para o desenvolvimento integrado e cooperativo do seu país e de outros. Neste contexto, levamos a cabo um estudo tendo em vista “Caracterizar as competências em literacia científica de estudantes da Região Autónoma dos Açores à entrada do ensino secundário”. Para o efeito, procurámos analisar as suas competências de reorganização e de compreensão literal, inferencial e crítica, com base na taxonomia de Català et al (2001), traduzidas nas capacidades de a) apreender as ideias gerais de um texto; b) selecionar informação explícita; c) interpretar dados de diferente natureza; d) explicar fenómenos científicos; e) resolver problemas envolvendo cálculos; e f) formular hipóteses. Tendo em conta os nossos objetivos, optou-se por uma abordagem qualitativa, que envolveu a elaboração e aplicação de um teste de literacia a estudantes do 10.º ano inscritos na disciplina Físico-química em escolas do ensino regular e profissional de todas as ilhas da Região. A nossa amostra ficou constituída por 491 provas, 54,8% das quais realizadas por estudantes do ensino profissional e 45,2% do ensino regular. Os dados (respostas dos alunos) foram sujeitos a análise de conteúdo, tendo ainda procedido ao tratamento estatístico dos mesmos, para uma melhor compreensão dos resultados e cruzamento com varáveis como o género, a escola e o subsistema formativo que frequentavam (ensino profissional vs ensino regular). Os resultados ainda estão em fase de apuramento.

Estreitamento curricular no 1.º ciclo do ensino básico – a área das expressões

Daniela Costa (UAc)

Francisco Sousa (CICS.UAc/ CICS.NOVA.UAc)

A presente comunicação apresenta e reflete o trabalho desenvolvido ao longo das unidades curriculares de Estágio Pedagógico I e Estágio Pedagógico I, inseridas do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico oferecido pela Faculdade de Ciências Socais e Humanas da Universidade dos Açores. Para reforçar as nossas reflexões, realizámos dois estudos empíricos. O primeiro incidiu na compreensão da ação das nossas atividades pedagógicas nas interações das crianças do estágio, o qual desenvolveu-se aplicando um teste sociométrico em dois momentos, no início e no fim de cada estágio. O segundo, mais alargado, onde se aplicaram inquéritos por questionário a encarregados de educação/pais (n=151), com o objetivo de compreender as suas conceções/representações sobre o envolvimento parental e o papel da escola na educação da criança, destacando a Educação para a Cidadania. Este estudo foi efetuado junto de pais das crianças, de todos os anos de escolaridade, das duas escolas de estágio. Concluímos que as práticas pedagógicas que desenvolvemos influenciaram positivamente o desempenho dos nossos alunos. Em relação ao primeiro estudo, a relação entre as crianças de estágio, as crianças evoluíram ligeiramente, não havendo grandes mudanças após a intervenção pedagógica. Relativamente à investigação realizada junto dos encarregados de educação, estes assumiram que, nos dias que correm, têm a preocupação de promover atitudes e valores corretos para o seu educando, tanto em casa, como na escola para promover uma Educação para a Cidadania.

(Re)construir um projeto educacional em cidadania: um estudo em contexto de estágio pedagógico

Cristina Ferraz (UAc)

Josélia Fonseca (UAc)

No âmbito da unidade curricular “Iniciação à Prática Profissional no 1.º Ciclo do Ensino Básico”, de um curso de Licenciatura em Educação Básica – que implica a observação participante de práticas letivas –, foi proposto o estudo de um “caso clínico” identificado no contexto da sala de aula observada. Essa proposta insere-se num modelo de formação que preconiza a familiarização progressiva dos estudantes com a ideia de “professor investigador” e a sua sensibilização para a importância de assumirem uma postura investigativa perante a realidade educativa observada (Sousa e Palos, 2014).

No contexto da referida observação participante, houve uma conversa/entrevista[1] com a professora responsável pela sala, que afirmou ter muita dificuldade em lecionar aulas de Expressões, alegando que os programas de Matemática, de Língua Portuguesa e de Estudo do Meio são muito extensos e que, além disso, os encarregados de educação exigem que os exercícios propostos nos manuais escolares estejam todos resolvidos no final do ano letivo.

Estas palavras suscitaram-nos interesse em compreender melhor as razões dessa dificuldade, pois sugerem uma desvalorização da área das Expressões – desvalorização essa que contrasta com a valorização dessa mesma área noutros contextos. Aliás, no próprio curso de Licenciatura em Educação Básica, a referida área é frequentemente reconhecida como fundamental para o desenvolvimento, pelas crianças, de variadas competências.

Assim, o pequeno estudo aqui relatado tem por objetivo compreender qual a importância atribuída à área das Expressões no contexto em que foi realizada a referida Iniciação à Prática Profissional.

Vários estudos têm evidenciado que frequentemente há menor investimento no ensino das Expressões Artísticas, comparativamente a outras áreas curriculares. Em muitos contextos, as Expressões tendem a ser mobilizadas de forma breve – nas épocas festivas e não só – mais numa perspetiva lúdica do que numa perspetiva de aprofundamento de aprendizagens.

Segundo Freitas (2012), “a escola cada vez se preocupa mais com a cognição, com o conhecimento, e esquece outras dimensões da matriz formativa, como a criatividade, as artes, a afetividade, o desenvolvimento corporal e a cultura” (p. 389). Essa tendência representa um estreitamento curricular, em que os professores tendem a dedicar especial atenção às áreas curriculares que são alvo de avaliações externas, desinvestindo das outras áreas. Este fenómeno tem sido estudado em vários contextos. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, a enorme ênfase que o programa No Child Left Behind colocou em exames de leitura e matemática teve como consequência a dedicação de muito mais tempo a estas áreas, enquanto “outras áreas, incluindo história, ciências, artes, geografia (…) foram abreviadas em muitas escolas” (Ravitch, 2010, p. 107).

As técnicas de recolha de dados que foram utilizadas no estudo deste “caso clínico” foram observação direta, entrevista e análise das planificações das três estudantes que realizaram trabalho de campo na referida sala de aula. Foram realizadas três sessões cada uma com cerca de 2 horas e 30 minutos de observação das práticas letivas da professora responsável pela sala e uma entrevista à professora, com a duração de 30 minutos.

Destacamos os seguintes resultados deste pequeno estudo:

. Durante as três sessões de observação (cerca de 7 horas e meia) realizadas à professora responsável pela turma em questão, a área das Expressões não foi trabalhada.

. Durante as quatro observações da prática educativa da estudante B (cerca de 7 horas), esta apenas lecionou a Expressão Plástica uma vez, numa intervenção de 1hh30, numa abordagem alusiva ao Natal.

. Durante as quatro observações da prática educativa da estudante C (cerca de 7 horas), esta nunca lecionou a área das Expressões.

. Durante as  quatro sessões de prática educativa da estudante A (cerca de 7 horas), trabalhei a área das Expressões apenas uma vez, mais concretamente numa sessão de 1hh30, numa abordagem alusiva ao Natal.

. Num total de 22h30 de participação em atividades letivas, apenas duas das três estudantes que realizaram trabalho de campo na referida sala tiveram oportunidade de implementar atividades próprias da área das Expressões, num total de 3 horas;

. Essas atividades tiveram de ser subordinadas à celebração do Natal;

. Nenhuma das três estudantes teve oportunidade de trabalhar a Expressão Dramática;

. Não se observou qualquer exposição de trabalhos de Expressão Plástica nos quadros de cortiça ou nas paredes da sala;

. Alguns alunos evidenciaram dificuldades de motricidade fina, sobretudo em situações de recorte;

. A maioria dos alunos demorava bastante tempo na realização de atividades de Expressão Plástica.

Estes resultados sugerem uma dedicação à área das Expressões inferior à inicialmente esperada, tendo em conta que a frequência da área das Expressões é obrigatória, devendo os docentes trabalhá-las com os alunos pelo menos 4,5 horas por semana (segundo a matriz curricular em vigor), e que, além disso, é uma área potenciadora do desenvolvimento das crianças.

Esta desvalorização da área das Expressões pode prejudicar o desenvolvimento de competências importantes no desenvolvimento das crianças.

Referências

Freitas, L. C. (2012), Os reformadores empresariais da educação: da desmoralização do magistério à destruição do sistema público de educação. Educação e Sociedade, 33 (119), 379-404.

Ravitch, D. (2010). The Death and Life of the Great American School System. New York: Basic Books.

Sousa, F. e Palos, A. C. (2014). Formar professores investigadores: que margem de manobra no plano curricular? In A. F. Moreira et al. (Orgs.), Currículo na contemporaneidade: Internacionalização e contextos locais. Atas do XI Colóquio sobre Questões Curriculares, VII Colóquio Luso-Brasileiro e I Colóquio Luso-Afro Brasileiro de Questões Curriculares (pp. 672-678), Braga: Universidade do Minho.

 

[1] Tratou-se de uma conversa dedicada, sobretudo, ao conhecimento do contexto, para facilitar a observação participante, no âmbito da unidade curricular “Iniciação à Prática Profissional no 1.º Ciclo do Ensino Básico”. Ao mesmo tempo, havia a intenção de recolher dados relativos à forma como a área das Expressões era trabalhada naquela sala, para efeitos de realização deste estudo de caso “clínico”. Por isso, esta conversa funcionou também, em parte, como entrevista.

Fortificação
Cinema
Literacia
Estreitamento
Cidadania

Diálogos entre Historiografia e Cinegrafia: o cinema ensina a aprender a História da Filosofia

Anna Silva

Universidade dos Açores (Centro de Estudos Humanísticos - CEHu)

Com a presente comunicação pretende-se realçar o papel da música e do movimento na educação da criança, numa perspetiva de formação pessoal, cultural e artística. Neste sentido na região dos Açores contribui desde cedo o envolvimento das crianças quer nas práticas (extra)curriculares nas ESCOLAS, quer num tipo de associações ou grupos existentes na comunidade – como é o exemplo das FILARMÓNICAS.

Por este motivo, apresentaremos primeiro um estudo efetuado no âmbito do estágio com o objetivo de compreender a importância que um grupo de educadores de infância (n=37) e professores do 1.º Ciclo (n=37) de algumas escolas locais dão às expressões musical e motora nas suas práticas pedagógicas, no que concerne ao desenvolvimento e aquisição de competências da criança. Para o efeito, aplicou-se um inquérito por questionário. A partir da análise dos dados registou-se que estes profissionais consideram importante eleger a música e o movimento nas práticas dos seus alunos mas há um realce dado ao recurso à interdisciplinaridade, sendo de opinião  que os contextos educativos são cada vez mais complexos para tratar estas áreas (formação insuficiente; escassez de recursos; gestão do currículo).

Reforçámos esta análise com um estudo de aprofundamento e realizámos ainda algumas entrevistas, uma a professor especialista de música de uma das escolas analisadas e, outra, aos responsáveis de uma Filarmónica da comunidade da escola. Verificámos que atualmente nessa Escola tende-se a reforçar a música junto das crianças, mas em prol de resultados académicos e que na Filarmónica o empenho junto da educação das crianças, no desenvolvimento de competências musicais, tende a aumentar.

Música
Nota de rodapé 1
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